A análise de dados está transformando a rotina dos clubes de futebol no Brasil. O que antes era tarefa centralizada na figura do cartola — líder que toma decisões com base no olhar, experiência pessoal e intuição —, hoje passa por agências de scout, departamentos de desempenho e, principalmente, setores de analytics totalmente estruturados.
O processo evoluiu rápido: se antes bastava um olho clínico, agora times de elite já contam com equipes inteiras dedicadas à análise de dados, com profissionais que vão desde executivos, diretores de futebol e coordenadores de mercado até cientistas de dados. Essa estrutura fortalece a capacidade de identificar talentos, avaliar desempenho, monitorar adversários e até acompanhar a condição física dos jogadores. Hoje, 11 clubes da Série A já possuem setores de dados estruturados, enquanto outros ainda acumulam funções em análise, mas sem um departamento dedicado.
A aplicação prática dessa revolução é evidente no mercado de transferências. Analistas usam plataformas com navegadores para cruzar informações, identificar atletas compatíveis com os modelos de jogo de cada clube e criar bancos de dados para alimentar decisões. O objetivo é minimizar erros nas contratações, reduzir desperdício de recursos e tempo, além de oferecer diretrizes claras para as áreas executivas, que continuam responsáveis pelas escolhas finais. O tradicional método de só olhar números simples — como gols e assistências — foi superado por análises que consideram múltiplos parâmetros e até fatores intangíveis, como impacto psicológico e capacidade de adaptação.
Além do recrutamento, a análise de dados ganha relevância na análise de desempenho individual e coletivo, planejamento físico e prevenção de lesões. Os clubes usam modelagem estatística para criar cenários, projetar desempenho futuro e até otimizar taticamente as equipes, buscando o melhor aproveitamento de cada jogador. Existe, portanto, uma integração profunda entre departamento de inteligência e desempenho físico, com médicos, fisiologistas e preparadores físicos trabalhando juntos com os cientistas de dados.
Mas a mudança não é apenas operacional, ela reflete uma transformação cultural. O ecossistema do futebol brasileiro está sendo impactado por investidores e profissionais estrangeiros, que trazem práticas modernas e exigem mais transparência e eficiência na gestão dos clubes. Times como o Botafogo se destacam ao investir em equipes de dados e contratar analistas de alto nível, mostrando que a inovação está no DNA das organizações mais competitivas.
O impacto do analytics ainda cresce no futebol de base. Setores de dados analisam jovens atletas para garantir um investimento de longo prazo, monitorar desenvolvimento técnico e físico, além de identificar potenciais futuros craques ainda cedo. A tendência é que, nos próximos anos, o uso de inteligência analítica se torne obrigatório para clubes que quiserem se manter relevantes no cenário nacional e internacional.
O mercado reflete esse movimento. O faturamento dos clubes da Série A em 2024 ultrapassou os R$ 10 bilhões, mas o endividamento também segue alto, exigindo cada vez mais eficiência e controle custos. A análise de dados, portanto, surge como ferramenta fundamental para quem deseja sobreviver e crescer no futebol profissional.
Essa revolução não elimina o papel da experiência dos treinadores e dirigentes, mas oferece informações mais precisas e embasadas para que as decisões sejam tomadas com mais segurança. O futebol brasileiro está, definitivamente, diante de um novo tempo, onde a matemática, a estatística e a inteligência artificial caminham lado a lado com a paixão nacional.
Clubes que investem em dados estão colhendo resultados não só nas quadras, mas também nas finanças e na projeção da marca. O desafio, agora, é seguir inovando, construindo departamentos ainda mais fortes e integrando análises cada vez mais sofisticadas para transformar o futuro do esporte no país.
