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Extrema pobreza em BH atinge 100 mil famílias pela primeira vez na história

Número é o maior já registrado na capital desde a criação do Cadastro Único, em 2001, segundo dados que a reportagem teve acesso com exclusividade

Por Rayllan Oliveira Publicado em 12 de julho de 2022 | 10h22 

Sem renda, famílias contam com doações para se alimentar.

Sem renda, famílias contam com doações para se alimentar.

Belo Horizonte tem 102.099 famílias em situação de extrema pobreza. É o maior número já registrado na capital desde que a criação do Cadastro Único para Programas Sociais, o CadÚnico, que foi implementado nacionalmente, em 2001. Ao todo, são 239.217 pessoas que sobrevivem com uma renda individual de até R$ 105.

Famílias como a de Tatiana Souza Miranda, de 34 anos, moradora do bairro Alto Vera Cruz, na Região Leste da capital. Desempregada, vive com o companheiro, os três filhos e com quatro sobrinhos, que adotou da irmã, vítima de câncer de útero, em abril deste ano. O sustento da casa é proveniente do Bolsa Família, do trabalho informal feito pelo companheiro e de doações. A renda mensal é dividida entre as despesas da casa, transporte escolar de uma das crianças e também para a alimentação de nove pessoas.

“A gente vive basicamente com as ajudas. Não está sendo nada do jeito que tinha que ser. Sai do nosso orçamento, por isso contamos com as doações de muitas pessoas”, relata Tatiana Miranda. Ela conta que só não falta o de comer porque recebe doações de várias instituições. São gêneros alimentícios, como arroz, feijão, macarrão, e produtos de higiene.” A gente não sabe por quanto tempo vão continuar ajudando, mas a gente espera que eles continuem por um bom tempo, até que eu consiga um emprego e comece a trabalhar”, relata. 

De acordo com  Secretária de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania de Belo Horizonte, Maíra Colares, o desemprego e o aumento dos preços dos gêneros alimentícios colaboraram para o aprofundamento da extrema pobreza e da pobreza, principalmente durante a pandemia. Ela acredita que esse cenário também é consequência da PEC 55/2016 (PEC do Teto de Gastos). “Isso é um reflexo da política econômica e social adotada pelo país”, afirma.

A secretária aponta que outro fator para o aumento desses números pode ter sido a ampliação das bases para o cadastros dessas famílias. Em 2017, Belo Horizonte tinha apenas sete postos de atendimento do Cadastro Único. Neste ano, são 35 disponíveis em diversas regiões da capital. “O cadastro foi uma estratégia muito importante, principalmente, no começo da pandemia. Ele ajudou na estratégia de distribuição das cestas básicas e kits de higiente. Se a gente não tivesse um cadastro único atualizado, a gente teria dificuldade de incluir essas famílias”, relata. 

De março de 2020 até novembro de 2021, a capital distribuiu mais de 5,2 milhões de cestas básicas e 945 mil kits de higiente. No ano passado, 2.059.863 foram servidas nos restaurantes populares, sendo 489.262 de forma gratuita à população. Neste período, a Prefeitura também criou o Auxílio Belo Horizonte, que atendeu a mais de 204 mil famílias.

Além do avanço da extrema pobreza, a capital também acompanhou uma crescente no número de famílias em situação de pobreza. Hoje, são 18.911 famílias que fazem parte deste grupo, o que representa 58.204 pessoas, conforme a última atualização do CadÚnico. O programa é um instrumento de coleta de dados e informações que tem como objetivo identificar todas as famílias de baixa renda para fins de inclusão em programas de assistência social e redistribuição de renda. O levantamento considera em situação de extrema pobreza aquelas que tem renda de até R$ 105 por pessoa. São classificadas em situação de pobreza quem possui renda entre R$ 105,01 e R$ 210.

Famílias estão desesperadas por comida

Francis Santos, que é presidente da Central Única das Favelas de Minas Gerais (CUFA-MG), uma organização não governamental que realiza ações sociais em periferias do estado, afirma que é cada vez mais perceptível o número de famílias que precisam de ajuda. “Algumas famílias que nunca pediram, hoje estão deseperadas. As famílias pedem o que há de mais básico. Alimentação, material de higiene, botijão de gás e até garrafa de água”, relata.

Somente no ano passado, a CUFA-MG distribuiu 206.076 cestas básicas em Minas Gerais. A maior parte delas foi entregue em Belo Horizonte e em cidades da Região Metropolitana. Além disso, a Central precisou desenvolver o programa “Mães da Favela”, para auxiliar mulheres que moram em periferias e que são responsáveis pelo sustento de suas casas. Na capital, as ações são voltadas principalmente para as regiões do Barreiro e de Venda Nova.

“A gente chegou a atender 250 mil famílias, só que as doações diminuiram. Hoje, em todo o Estado, conseguimos atender no máximo 30 mil”, relata o presidente da CUFA-MG. Para ele, o momento exige políticas públicas para essa população. A falta de itens básicos, como os de alimentação e de higiene, coloca crianças e adolescentes ainda mais em situação de vulnerabilidade.

Francis Santos conta que, em muitos casos, elas precisam ajudar aos pais em atividades informais para conseguir dinheiro para o sustento das famílias. “A prioridade é que eles trabalhem e os filhos estudem, mas não é sempre assim. Os pais estão pedindo socorro”, conta.

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